Publicidade

Seja bem vindo
Nova Fátima,22/01/2025

  • A +
  • A -

Commodities fortalecem indústria e Brasil vira 'supermercado do mundo'

Tudo relacionado às principais commodities que o país exporta, com cada vez mais verticalização produtiva, valor agregado e volume

Fonte: Folhapress
Commodities fortalecem indústria e Brasil vira 'supermercado do mundo' Foto Reprodução

A queda acentuada da participação da indústria de
transformação na economia brasileira nos últimos anos esconde segmentos que vêm
batendo recordes de produção, exportação e investimentos.

Tudo relacionado às principais commodities que o país
exporta, com cada vez mais verticalização produtiva, valor agregado e volume.

Na esteira do boom do agronegócio, o Brasil acaba de se
consolidar como o maior exportador mundial de alimentos industrializados em
volume, com 64,7 milhões de toneladas em 2022, à frente dos Estados Unidos.

Nos setores de petróleo e mineração, há crescente
beneficiamento de produtos brutos, impulsionando cadeias industriais.

Mas é na alimentação em que o Brasil se destaca. Reunindo 38
mil empresas com 2 milhões de empregos formais e diretos, o setor tornou-se o
maior ramo da indústria de transformação, com 24,3% de participação no total de
vagas.

Além destes empregos diretos, agrupa outros 10 milhões na
cadeia produtiva. No total, responde por 12% de todas as pessoas que trabalham
no país.

O setor processa 58% do valor da produção de alimentos do
campo, e grãos brutos têm crescente participação na engrenagem industrial
voltada aos mercados interno e externo. Nos últimos sete anos, as exportações
de alimentos industrializados saltaram de US$ 35,2 bilhões para quase US$ 60
bilhões (+72%).

Enquanto a indústria de transformação em geral encolheu
-1,2% de janeiro a setembro deste ano, a de alimentos cresceu 3,9%. A
relacionada ao petróleo teve alta ainda maior: 4,8%.

O governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vem se debatendo
para encontrar fórmulas novas –ou tentar reeditar políticas fracassadas– para a
reindustrialização. Mas, sem interferência estatal, a indústria alimentícia
investe R$ 30 bilhões por ano e está mudando a alcunha do Brasil de
"celeiro do mundo" para "supermercado do mundo".

Petróleo, minério e agronegócio garantem todos os anos
grande parte dos saldos comerciais robustos à balança comercial. Neste ano, a
diferença entre exportações e importações pode atingir quase US$ 100 bilhões.

Isto reforçou o colchão de reservas internacionais (cerca de
R$ 350 bilhões) e afastou, a partir dos anos 2000, a principal vulnerabilidade
brasileira até então: crises externas por falta de dólares.

Mas especialistas questionam se a dependência excessiva do
Brasil em produtos básicos não deixaria o país vulnerável a flutuações
acentuadas nesses mercados. Seja por aumento da oferta global de petróleo,
eventos climáticos com impacto em safras ou desaceleração maior da China,
principal mercado do agro e minérios brasileiros.

"Apesar dos riscos, o Brasil está bem posicionado nesse
processo [de crescimento das commodities]. Isso normalmente aumenta a poupança
doméstica, o que pode gerar mais crescimento e formas de financiar
investimentos e a dívida pública", diz Manoel Pires, coordenador do Núcleo
de Política Econômica e do Observatório de Política Fiscal do Ibre-FGV.

Nos setores petróleo, gás natural e minério de ferro,
cálculos do economista Bráulio Borges indicam que a receita adicional acumulada
pela União deve chegar a R$ 1 trilhão entre 2022 e 2030, na comparação com a
década anterior, auxiliando no equilíbrio das contas públicas.

"Mas, no médio prazo, há uma questão importante: como
transformar uma riqueza natural temporária em valor agregado, conhecimento,
capacidade de inovação, para gerar qualidade no crescimento de longo prazo?
Esse é um desafio grande, mas algumas coisas vão acontecendo
naturalmente", diz Pires.

Neste ponto, o fortalecimento endógeno da indústria de
alimentos seria boa notícia. Assim como os investimentos crescentes em
beneficiamento de petróleo e na siderurgia.

No petróleo, o plano estratégico de US$ 102 bilhões da
Petrobras 2024-2028 prevê US$ 17 bilhões para as áreas de refino, transporte e
comercialização, com a conclusão de algumas refinarias, o que agregará valor ao
óleo bruto.

Segundo Valéria Lima, diretora-executiva de Dowstream do
Instituto Brasileiro do Petróleo, importantes investimentos também estão
programados na indústria de biocombustíveis mais sofisticados, como para a
aviação e os que podem ser misturados ao diesel convencional.

Embora empregue menos tecnologia que indústrias mais
sofisticadas, como a eletrônica ou de máquinas e equipamentos, esses setores
seriam capazes de criar mais e melhores empregos, contendo um pouco a
desindustrialização brasileira.

Segundo o IBGE, a participação da indústria no PIB despencou
de 36% para cerca de 11% nos últimos 40 anos. Em boa medida, ela deu lugar à
ascensão do setor de serviços, responsável hoje por cerca de dois terços da
economia –mas que gera bem menos empregos formais e que são pior remunerados do
que os industriais.

Estudos consagrados mostram que empresas formais e
exportadoras tendem a ser mais produtivas, com mão de obra especializada,
levando-as a contribuir mais para o crescimento sustentável.

Segundo Cleber Sabonaro, gerente de Economia e Inteligência
Competitiva da Abia (Associação Brasileira da Indústria de Alimentos), é o que
acontece nos alimentos.

Além da industrialização de produtos tradicionais como
açúcar, proteína animal, óleo de soja e suco de laranja, o setor cresce nas
áreas de derivados de trigo (como biscoitos), produtos lácteos e café,
inclusive em cápsulas, entre outros.

Sabonaro diz que o Brasil ganhou terreno a partir do início
da guerra entre Rússia e Ucrânia, em fevereiro de 2022, quando muitos países
exportadores de alimentos interromperam negócios para abastecer o mercado
interno.

"Sem prejuízo do mercado brasileiro, que absorve 72% da
produção, não deixamos de atender as exportações", afirma.

No mundo, os principais mercados para os alimentos industrializados do Brasil
são China (17,7% de participação), os 22 países da Liga Árabe (16,3%) e União
Europeia (15,3%).

No setor de suco de laranja, em que o Brasil desenvolveu
tecnologia para exportar o produto sem contato com oxigênio, o país responde
por 75% do comércio global, fatura R$ 2,7 bilhões ao ano e gera 200 mil
empregos diretos e indiretos, de acordo com Ibiapaba Netto, diretor-executivo
da Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos.

Segundo Lia Valls, coordenadora de Estudos do Comércio
Exterior do Ibre-FGV, um dos maiores ganhos recentes do Brasil na agenda
internacional é prover segurança alimentar.

"Mas há a interrogação de sempre: é sustentável?". Valls lembra que
alguns países muito dependentes de commodities, como a Noruega (petróleo),
criaram fundos com recursos para serem utilizados em momentos de queda no fluxo
de receitas. "Mas são políticas que requerem permanência. Não se muda uma
estrutura do dia para a noite", afirma.

Na siderurgia, a ascensão e o beneficiamento das commodities
vêm provocando investimentos de R$ 12,5 bilhões ao ano. "O objetivo é
melhorar o 'mix' de produtos e agregar valor", afirma Marco Polo de Mello
Lopes, presidente-executivo do Instituto Aço Brasil.

Neste momento, no entanto, há risco de planos de expansão
serem abortados pelo que Lopes chama de comercialização "predatória"
de aço chinês no Brasil.

Segundo ele, há um excedente de produção de 560 milhões de
toneladas de aço no mundo (190 milhões na China). Enquanto EUA, União Europeia,
Reino Unido e México têm tarifas de importação de 25%, o Brasil segue com
proteção de 9,6%.

Apesar do aumento da produção industrial relacionada às
commodities no últimos anos, o Brasil acumula déficits constantes na balança
comercial de manufaturados: US$ 128 bilhões no ano passado e cerca de US$ 115
bilhões previstos em 2023.

Para Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do
Ibre-FGV, apesar de avanços como o das indústrias de alimentos, siderurgia e
petróleo, com a criação melhores empregos, o Brasil tem muita dificuldade em
encontrar um caminho para se reindustrializar.

"Temos políticas ruins criadas no passado, mas que
nunca morrem. Não temos capital humano suficiente e o custo do dinheiro para
investir é elevado [por causa do desequilíbrio fiscal que leva a juros
altos]", afirma.



































































"Há, sim, todo um aumento da renda em cidades e regiões
próximas ao agronegócio e à indústria do petróleo, mas isso acaba influenciando
mais o setor de serviços, que emprega muita gente com baixa qualificação,
informais e com salários menores", diz Matos.




COMENTÁRIOS

Buscar

Alterar Local

Anuncie Aqui

Escolha abaixo onde deseja anunciar.

Efetue o Login